Entre os dias 21 à 23 de setembro de 2023, a turma da “ACCS: Jumento: Contexto socioeconômico cultural do Nordeste”, do semestre de 2023.2, visitou a cidade de Valente, localizada no nordeste do estado da Bahia.
No dia 22, visitamos a propriedade do Sr. Roque, acima de 55 anos e pai de 5 filhos, possui 2 jumentos, que dividem a tarefa de carregar o sisal e demais atividades na propriedade, tendo dias de folga alternados entre os animais. Com o trabalho no sisal, conseguiu criar os 3 filhos mais velhos, mas hoje para sustentar os 2 filhos mais novos, ele está precisando complementar a renda, e para isso, ele faz alguns bicos como vaqueiro e pedreiro, além de ser pensionista.
Devido a falta de água, a produtividade de sua propriedade está um pouco deficitária, porém acredita que com a aquisição de uma bomba para colocar na cisterna irá melhorar a sua atividade.
Sr. Roque é arrendatário de uma área de aproximadamente 4 hectares, com 11 tarefas. Do valor bruto arrecadado, 25% corresponde ao arrendamento, 50% da mão de obra, correspondente a 5 trabalhadores, ficando com 25% do valor. Toda sua produção é voltada para a cooperativa. E apesar de todos os percalços, ele afirma que não abre mão da atividade e nem da sua rotina, fazendo de sua profissão também um lazer.
A todo momento o Sr. Roque demonstra muito prazer e orgulho da profissão que exerce há tantos anos com dedicação e esforço. O sisal apesar de ser uma atividade que com o passar dos anos está diminuindo consideravelmente a sua prática informal e tomando formas mais tecnificadas e industriais de produção, exige dos trabalhadores e dos animais, muito esforço físico, horas sob o sol tanto na máquina separando as fibras, como na seca e coleta do material, é uma prática antiga e histórica desse povo que por muito tempo gerou renda e sustento para inúmeras famílias com a produção e com a confecção de artigos e produtos oriundos do sisal.
No dia 23, sábado, fomos à feira do município para a realização da nossa entrevista, com o objetivo de analisar sobre a percepção da comunidade local à respeito da atual situação do Jumento Nordestino, identificar o conhecimento dos entrevistados sobre as diversas atribuições do jumento e levar, por meio das perguntas e do diálogo, uma reflexão acerca da importância da preservação deste animal.
Entrevistamos os comerciantes e compradores na feira, todos residentes do município de Valente, e a maioria dos entrevistados trabalhou ou ainda trabalha com jumentos, sabem que eles estão sendo abandonados mas não sabiam da possibilidade de extinção desses animais por conta do abate, e nem o motivo do abate, pensando ser para a fabricação de carne de charque. Explicamos que era por conta do couro, muito valioso no mercado internacional para a fabricação de cosméticos por causa do “ejião”, uma espécie de gelatina retirada do couro do jumento.
Perguntamos também sobre a possibilidade do consumo de produtos feitos a partir do leite da jumenta, como queijos e iogurtes, mas os entrevistados negaram que comprariam ou comeriam. O leite de jumenta só é consumido caso a pessoa esteja doente, pois há uma crença de que esse leite poderia curar as enfermidades.
Por fim, foi muito proveitoso e enriquecedor conhecer as propriedades e a feira, como também entrevistar os moradores e entender um pouco mais sobre o processamento do sisal, uma das principais fontes de renda do município. Toda essa grandiosa experiência foi possível graças ao apoio fornecido pela Fundação APAEB - Ba, para nos guiar durante a visitação às propriedades rurais locais.
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